O texto do professor Marcio da Costa, da UFRJ, apresenta alguns resultados da sua investigação a respeito do valor atribuído à educação pelos alunos da educação básica do Rio de Janeiro. A pesquisa utilizou um survey aplicado em 2399 alunos das redes municipal, estadual e privada, abrangendo 96 turmas de 21 escolas, distribuídas pelas diferentes regiões da cidade. A investigação partiu da hipótese de que a reputação de uma instituição escolar seja um elemento por si diferenciador de sua clientela, produzindo diferenças escolares não necessariamente condicionadas por fatores socioeconômicos. Este trabalho, apesar de ser como o autor destaca ‘um primeiro e rudimentar tratamento dos dados colhidos’ no survey, nos fornece um perfil do alunado bastante amplo e enriquecedor construído a partir das próprias percepções dos alunos sobre a escola e o valor a ela atribuído. O trabalho aponta para diferenças e semelhanças interessantes não só entre perfis socioeconômicos, mas de hábitos, valores e expectativas dos alunos de escolas públicas e privadas, identificando ainda, dentro de uma mesma rede de ensino, diferenciações entre as escolas e nestas entre turmas, de acordo com o prestígio e reputação das mesmas. Dessa forma este estudo aponta para a enorme complexidade que envolve a desigualdade educacional brasileira, e que percursos e rendimentos escolares diferenciados não podem ser explicados somente a partir de condicionantes socioeconômicos. Esta investigação traz enormes contribuições aos estudos acerca da dimensão cultural dos processos de produção das desigualdades escolares e da qualidade do ensino, valendo-se de abordagens quantitativas e qualitativas, micro e macro-sociais, hoje uma necessidade para o avanço da pesquisa em sociologia da educação no Brasil, como demonstra a produção socializada no âmbito do GT de Sociologia da Educação da ANPED, atualmente sob a coordenação do prof. Marcio da Costa.